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Kristen Stewart posou ao lado de sua colega de elenco em Love Lies Bleeding, Katy O’Brian, para a capa da edição digital da revista Them. Confira as fotos e a entrevista com as duas abaixo:

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Em uma manhã de inverno, em Altadena, sigo o cheiro de suor e o som de Kelela até o quarto de uma casa alugada, onde um monte de queers lutam em cima de um colchão com lençóis de cetim. Entre a pilha estão quatro pessoas não binárias (nomes: Rae, Jay, Ray e Raw), um casal que vai passar a tarde dando uns amassos apaixonados, e, no meio, Kristen Stewart e Katy O’Brian — colegas de elenco no thriller Love Lies Bleeding da A24 — abraçando uma a outra com calor sáfico.

Sessões de fotos como esta podem ser divertidas, mas nunca são divertidas assim — um sentimento palpável no set, enquanto risadas ecoam, membros se entrelaçam e as estrelas da capa desfilam em cuecas boxer. Entre a atmosfera brincalhona e as roupas confortáveis, Stewart está em seu elemento, uma mudança bem-vinda para a musa de longa data da alta costura. “Há 15 anos que desejo fazer uma sessão de fotos assim”, ela sorri depois de finalizar o dia.

Estamos sentadas em um sofá surrado no estúdio de música improvisado na casa de Altadena. Um pedaço grosso de palo santo queima em uma mesa próxima, repleta de baseados descartados e garrafas vazias de cerveja. Stewart usa uma jaqueta bomber preta e touca cor de creme. A luz do sol atravessa a fumaça enquanto ela reflete mais sobre a sessão de fotos: “Parece um pouco tipo, dã, mas de uma forma que é legal e nada contundente. De certa maneira, mostra que cresci até um lugar mais maduro e relaxado em que não estou mais com tanta raiva que isso não aconteceu há 15 anos.”

Faz sentido que a ex-atriz mirim de 33 anos esteja ansiosa para participar de um quadro tão gay neste momento da carreira dela. Depois de anos liderando gigantes de Hollywood como Crepúsculo e As Panteras, seus projetos recentes foram definidos por livre arbítrio criativo e narrativas queer rebeldes. Hoje, o público americano pode vê-la como Lou, a gerente de uma academia decadente com um corte mullet elegante, em Love Lies Bleeding. Também em preparação: o papel principal em uma biografia abrangente da crítica Susan Sontag e uma adaptação do livro de memórias de Lidia Yuknavitch, que marcará sua estreia na direção de longas-metragens.

Para os fãs que estiveram atentos, os projetos futuros de Stewart não é uma mudança repentina. Desde seu trabalho em Para Sempre Alice, de 2014, até sua interpretação indicada ao Oscar da Princesa Diana em Spencer, de Pablo Larraín, ela tem focado no cinema independente. Dito isso, nós nunca vimos algo como Love Lies Bleeding vindo de Stewart. É claro, havia ondas sutis de desejo queer pulsando por seu papel em Acima das Nuvens, de Olivier Assayas. E sim, ela até interpretou uma lésbica assumida (mais ou menos) na comédia romântica de Natal de Clea Duvall em 2020, Alguém Avisa?. Mas há uma diferença entre ser os “vegetais escondidos” de um filme para famílias feito para promover tolerância, como Stewart agora enxerga o original do Hulu, e ser a lésbica controladora no centro de um filme que retrata descaradamente algumas das coisas insanas que as sapatonas passam.

“A identidade foi eliminada dos meus objetivos”, diz ela em relação a Alguém Avisa?. “Eu recebia muitas anotações dos executivos do estúdio em relação ao meu cabelo e minhas roupas. Eu pensava: ‘Vocês leram o roteiro e me contrataram. O que estamos fazendo aqui?’ Era irritante pra caralho.”

Ela continua: “E tudo bem, porque acho que há formas de encobrir as coisas para ser fácil para todo mundo digerir. E não tenho problema com isso. Sinceramente, parabéns para a Clea, porque eu não tenho paciência.”

Com seu filme mais recente, não foi necessário encobrir nada. “É legal pra caralho”, diz ela enquanto ri.

Se Love Lies Bleeding representa um tipo de performance revelação para Stewart, o projeto representa uma revelação mais tradicional para sua colega de elenco, Katy O’Brian, que fez testes para o papel de Jackie — seu primeiro papel principal em um filme — depois que um fã enviou uma DM para ela no Twitter com a chamada de elenco. “Uma fisiculturista gay do Centro-Oeste”, O’Brian leu, sendo ela uma ex-fisiculturista gay do Centro-Oeste. Ela pensou: “Vou morrer se não conseguir esse papel.”

Pessoalmente, a artista marcial e atriz de Mandalorian de 35 anos parece tão poderosa quanto Jackie, seus bíceps feitos para o desejo do TikTok. Embora diferente de sua personagem, cuja ira pirotécnica impulsiona o filme, O’Brian é brincalhona e vulnerável — “um pouco idiota”, usando as palavras dela.

Enquanto almoça em um parque em Beverly Hills, ela se refere a sua primeira impressão do roteiro: “Puta merda.” Consigo ver seus olhos se arregalando por trás do vidro castanho de seus óculos aviador enquanto ela lembra da mistura de entusiasmo e medo: “Estava tremendo enquanto lia”, lembra O’Brian. “Esse definitivamente seria um dos papéis mais desafiadores que já interpretei.”

Também seria o mais emocionante. “Porque a Jackie era uma personagem completa com interesses e emoções verdadeiras”, ela me conta. “E também havia algumas cenas de sexo.”

Com certeza havia. Na verdade, essas sequência feitas com muita habilidade são parte da razão pela qual Love Lies Bleeding reflete um ponto de virada não só na carreira das atrizes principais, mas também no ambiente do cinema sáfico moderno. Chegando no fim de uma era quase comicamente saturada de um certo tipo de narrativa lésbica — isto é, em grande parte morna, muitas vezes branca e sempre antiquada — o segundo filme propulsivo de Rose Glass representa tudo que filmes desse tipo não são. É cheio de tesão, bruto e comprometido em representar relacionamentos queer contemporâneos com todas as marcas reveladoras de ternura e toxicidade que os tornam legitimamente nossos. Raramente desde Ligadas Pelo Desejo das Wachowskis que sapatonas fizeram uma bagunça deliciosa nas telas. A diretora observa enquanto sorri que esse era o plano desde o começo: “Há muitos dramas de época lésbicos muito bons por aí”, ela me conta no Zoom. “Eu sabia que não queria fazer esse tipo de filme.”

O que ela fez foi um sonho febril sáfico em esteroides, uma aventura sinistra e gloriosamente gay, estrelando uma futura galã musculosa e a atriz queer mais reconhecida da geração.

O que você faria por amor? Fugiria de casa? Lutaria? Mataria? Essas perguntas já inspiraram dezenas de suspenses românticos. Para nossa sorte, Love Lies Bleeding adiciona algumas novas pautas ao cânone, como: O que você faria por um sexo tão bom que faz você sentir que nasceu de novo? Tão legítimo que substitui as pontas soltas da sua vida por um propósito repentino e inegável? O quão longe você iria por uma ativa piedosa que coloca você em um altar? Por uma princesa versátil que faz você se sentir uma deusa?

Entra Lou, de Kristen Stewart, e Jackie, de Katy O’Brian. Situado em uma cidade do sudoeste durante os Estados Unidos de Reagan, Love Lies Bleeding é ao mesmo tempo uma história de vingança e uma representação revigorante e empática, uma que trata seus personagens com curiosidade em vez de cuidado. Enquanto outros filmes possam focar nas consequências trágicas de uma obsessão romântica, esse busca entender como duas personagens que quase não se conhecem podem levar seu amor a extremos sanguinários.

“O que eu amo nesse filme é que ser queer não é o conflito”, diz O’Brian. “É o tipo de filme que eu, uma pessoa queer, gostaria de assistir — não ter um drama em relação a minha sexualidade e só admirar essas duas malucas.”

Nossas protagonistas se encontram bem no começo, quando Jackie faz uma parada na academia de Lou a caminho de uma competição em Vegas. O encontro pode ser facilmente interpretado como cósmico, o tempo parece desacelerar enquanto elas flertam entre os supinos. Para O’Brian, o momento traz lembranças de sua primeira atração queer. “Eu tive a mesma experiência quando vi uma pessoa com aquele tipo de aparência andrógina pela primeira vez — alguém que não estava preocupado em passar todo o tipo de maquiagem e tal”, ela me conta. “Foi o meu despertar.”

De volta na academia, Jackie corajosamente abaixa os shorts, oferecendo a bunda para ser preenchida por esteroides romenos. “Já consegue sentir?” Lou sorri depois de administrar a injeção. “Como Popeye e seu espinafre.” Logo as duas chegam no apartamento de Lou, onde tropeçam amorosamente até uma cama iluminada como mel. O que acontece em seguida é uma série de cenas de amor marcantes — enérgicas, mas sem pressa, verdadeiramente eróticas sem cair na objetificação sáfica. “Comparado a algo como A Criada, em que você as assiste gritando no ato, esse é mais íntimo”, O’Brian observa.

Stewart concorda, notando que o que torna as cenas sensuais é mais do que uma atenção detalhista às manobras físicas. “Não consiste em mostrar o sexo simulado no filme”, ela diz. “Isso me deixa muito envergonhada. Estou cansada de assistir e de fazer.”

A atriz está muito mais interessada no subtexto sexual e no diálogo implícito que alimenta a intimidade na tela — “as maneiras nas quais você deixa a pessoa com quem você está ficar no controle ou ser consumida”, ela explica. “Essas foram as escolhas, e foram decisões muito bem articuladas, mesmo que não-verbais, que fizemos juntas. E sem essa dinâmica, ninguém teria gozado. Literalmente, daria para tirar o corpo da cena. Você poderia me dizer a coisa certa, e isso é o que vai me levar até o orgasmo. Me diz que eu sou algo para você. Me diz que eu posso ser maior do que você, embora eu tenha 1,65m e você tenha 1,80m, e eu chego lá.”

A atração instantânea de Jackie e Lou é ainda mais marcante sabendo das circunstâncias nada sexy do encontro das duas na vida real. Isso foi em 2022, em uma manhã quente de primavera em Los Angeles. Stewart havia sido escalada para o elenco recentemente e O’Brian estava chegando para uma leitura de química.

“Nunca pensei que conheceria Kristen Stewart. Então, eu cheguei e ela estava lá. Pensei: ‘Hm, é a Kristen Stewart. Que legal.’” Não muito tempo depois, enquanto outra Jackie em potencial gritava em outra sala, a novata decidiu se apresentar. “Fui falar com ela para ver qual era a vibe, ver se conseguiria”, O’Brian conta. “Então fui até ela e disse: ‘Oi, eu sou a Katy. Vou fazer um teste para a Jackie. E a Kristen estava parada, tipo: ‘Não me diga.’”

Até então, não parece o tipo de interação que se traduz naturalmente em lamber as axilas uma da outra na frente de uma diretora, que neste momento está a menos de uma hora de acontecer. “Eu disse para ela: ‘Foi muito rápido chegar aqui, mas pareceu longe porque meu gato fez xixi no meu carro e eu não consegui tirar o cheiro.’ E foi assim que eu conheci a Kristen.”

Quando pergunto para Stewart sobre o encontro, ela diz que as energias incompatíveis das duas, na verdade, as posicionou de maneira ideal para os papéis que interpretaram. “As interpretações estranhas que tínhamos das nossas personagens e o que podia estar acontecendo em um certo momento nunca eram as mesmas. Era perfeito, porque elas são obcecadas uma pela outra mesmo quando raramente estão conversando sobre a mesma coisa.”

Dois anos e uma filmagem de seis meses depois, as duas compartilham o ambiente facilmente, se enrolando em um sofá banhado pelo sol em um momento. Durante um intervalo nas fotos, puxo uma cadeira. Estamos conversando sobre astrologia quando O’Brian pega um caderno desgastado entre as almofadas. Engulo em seco, percebendo as páginas familiares manchadas de café. É o meu diário, digo timidamente.

“Posso olhar?” Ela sorri, ciente do quanto o pedido é audacioso, mas encantadoramente despreocupada.

“Claro.”

Stewart observa em silêncio do outro lado do sofá enquanto O’Brian vira as páginas, para, e lê em voz alta: “Boa menina.”

Olho em volta, nervosa e envergonhada com a intimidade repentina. “Uma fala do filme de vocês”, murmuro.

Stewart se ilumina, reconhecendo rapidamente o momento — um em que Lou exala aprovação enquanto Jackie se masturba. “Não há nada melhor do que esse sentimento”, ela exclama, projetando-se na personagem de O’Brian. “Me diga que estou fazendo um bom trabalho. Nossa, faço qualquer coisa.”

Mais tarde, Stewart elabora em relação à potência que essas narrativas sexuais carregam: “Estamos todos em nossas mentes, é tudo fantasia. Não significa que é mentira, mas precisamos acreditar nas histórias que escutamos sobre nós mesmos para então pensar com o corpo, levar para o exterior, e permitir que seja tocado do jeito que você decidiu que é bom.”

Acontece que, às vezes, as histórias que contamos para nos excitar nos deixa com peças faltando quando a manhã chega. Jackie e Lou aprendem do jeito difícil. Mais ou menos na metade do filme, depois de uma noite de briga e sexo transcendente, nossas namoradas acordam com uma reviravolta brutal, as levando a um caminho sangrento de retribuição.

Contrastando com inúmeros filmes tímidos sobre desejo não correspondido, Love Lies Bleeding realmente deixa as lésbicas transarem e se descobrirem, subvertendo o que significa ser um filme “lésbico”. “Insinuar que a ‘nossa’ experiência pode ser um gênero próprio é perigoso. Não quero perpetuar isso”, diz Stewart. “Temos tanto a descobrir, tanta auto exploração e toques em nós mesmas. Precisamos chegar na base, cara. É a única maneira de contar histórias, vindo de dentro.”

Entre a beleza e o caos de músculos e carros explodindo, Glass encontra maneiras sutis de continuar a codificação sáfica. Notavelmente, como O’Brian observa, Lou chega em uma cena de crime usando uma roupa curiosamente específica. “Ela coloca a roupa de assassinato”, a atriz ri. “Ela usa um macacão vermelho com mangas curtas. É estiloso, mas um look para limpar um assassinato? É hilário.” (Acho que se podemos ter moda para ir na feira, podemos ter a roupinha perfeita para nos livrar de um cadáver.)

Na verdade, Jackie só está começando. Porém, mesmo quando o filme se aprofunda mais na violência, ele ainda traça as texturas da codependência tecidas através de relacionamentos que podemos reconhecer. Sim, os riscos foram exagerados para um efeito dramático. Mas quem entre nós não buscou a promessa do amor até as garras da obsessão?

De volta em Altadena, Kristen e eu estamos falando sobre sangue. Especificamente, ela está descrevendo a inspiração sensorial para sua adaptação de Chronology of Water, a exploração impressionante de Lidia Yuknavitch sobre luto, fetiche e ambição adolescente.

“Eu amo o livro, amo a escrita. Eu consigo sentir o cheiro, consigo senti-lo pulsando e vazando, e isso precisa ser visto”, ela me conta. “A primeira cena do filme é só sangue escorrendo do corpo.”

Sangue verdadeiro, acrescenta a diretora, antes de pensar em voz alta: “Devo fazer que ela encha um coletor menstrual ou pego um frasco de sangue direto da veia? Precisa ser grosso.”

Ela está falando sobre Imogen Poots, que vai estrelar o filme. “Vou pegar o sangue dela e o meu, provavelmente”, Stewart reflete.

Usar o próprio corpo não é a única maneira pela qual ela busca levar a si mesma para a adaptação. Além de Poots, Stewart vê o resto do elenco formado por ex-atores mirins: “Pessoas que sentimos falta, mulheres que pararam de ser contratadas porque não eram mais ‘as meninas’.”

“Não quero dizer que não trabalham mais”, ela esclarece. “Mas quero dar papéis bons pra caralho para pessoas que eu admirava quando era pequena. Quero colocá-las nos filmes.”

Para Stewart, ir para trás das câmeras é uma transição natural. Depois de se sentir restrita em sets anteriores, ela anseia pelo fluxo criativo. “Trabalhar com um diretor ruim é como respirar por um canudo, como se qualquer verdade ou espaço a ser visto fosse sufocado”, diz ela. “Sinto que não tenho mais para onde ir. Tenho que fazer um filme.”

Enquanto os últimos raios do sol da tarde preenchem a sala com a luz âmbar, a nossa conversa volta para a química — o tipo que junta pessoas, que excita, que nos inspira a crescer. Estou pensando especificamente em uma passagem de Chronology of Water. Abrindo de novo o diário que O’Brian achou nas almofadas do sofá, começo a ler: “Você verá que há um tom subjacente e um enredo para a sua vida por baixo…”

“… da história que lhe contaram”, Stewart continua, de cór. “Quem saberia disso além de você? Sua habilidade de se metamorfosear, como material orgânico em contato com elementos transformadores.”

Muitos atores desejam ser vistos como o ideal platônico de si mesmos, esculturas de cena no olhar público. Stewart procura algo diferente: o espaço para ser mutável, para resistir aos limites calcificados das expectativas da indústria. “Em uma palavra, eu sou líquida pra caralho, cara”, diz ela. Conclui-se que essa liberdade a levaria até Yuknavitch, cujo livro de memórias encontra beleza em “reapropriar a dor, as experiências ruins e a narrativa.”

“Recontar a história é tão necessário para a sobrevivência de qualquer pessoa que já precisou mudar o caminho no qual foi colocada”, ela continua. “Entende?”

Concordo, depois pergunto: “Está falando um pouco de você, né?”

“Com certeza”, ela confirma depois de uma pausa. “Não sei mais de quem falaria.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart é capa da edição de primavera da revista Who What Wear e conversou com a amiga e ex-colega de elenco em The Runaways, Riley Keough, para o recheio. Confira abaixo as fotos, vídeos e a entrevista traduzida:

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Riley Keough: Oi!
Kristen Stewart: Ei, e aí?
RK: Minha nossa, estou tão feliz em te ver. Onde você está?
KS: Na minha casa.
RK: Muito legal.
KS: Deixar a responsabilidade de conduzir algo legível em nossas mãos é engraçado. Pensei duas vezes… Tipo: “Legal, posso falar com a Ri por 50 minutos. Parece bom.” Mas então lembrei: “Espera, queremos que as pessoas tenham conhecimento do que foi falado?” Nada de bom sairá daqui.
RK: Tudo bem porque eu tenho pautas, então vou segui-las. Bem, primeiramente… pude ver este filme incrível enquanto estava de cama com COVID, o que foi uma experiência bem maluca porque sonhei que um demônio tinha possuído meu corpo. Estou na Inglaterra. Fui para a cama e liguei para minha curadora de energia quando acordei dizendo: “Literalmente acabei de sonhar que um demônio possuiu o meu corpo e começou a desejar matar pessoas.” Recebi o seu filme nesse dia.
KS: O desejo de matar era um fato, tipo na realidade do sonho, ou você sentiu a necessidade de matar?
RK: Não acredito que estou dizendo isso em uma entrevista. Nunca contei isso para ninguém além da minha terapeuta, mas era como se um demônio tivesse tomado conta do meu corpo, tipo: “Rawrrr!” Ele estava ameaçando pessoas e eu não sabia o que estava acontecendo. Foi muito maluco. Parecia que havia outra entidade no meu corpo.
KS: Como se você estivesse fora de controle.
RK: Totalmente fora de controle.
KS: Tipo ‘Quero Ser John Malkovich’. Que merda!
RK: Eu acordei com COVID, então talvez tenha sido o vírus entrando de maneira agressiva no meu corpo nos meus sonhos. Então tive que assistir Love Lies Bleeding. Foi tão intenso, mas maravilhoso. Pensei: “Isso é ótimo. Pelo menos não estou sozinha.”
KS: Eu ia dizer que é loucura assistir sozinha. É um filme que você gostaria de assistir em um momento agitado com outras pessoas, em vez de ficar parada e sozinha.
RK: É muito bom, e também, você é muito boa.
KS: Obrigada, cara.
RK: Talvez não pareça para você, mas quando eu estava assistindo, você parecia tão livre na sua performance. Não sei se foi assim quando você estava atuando, mas pareceu muito… viva e livre.
KS: É estranho porque a personagem é meio paralisada, então, ao mesmo tempo, ela não é alguém livre ou acho que você não diria necessariamente que ela é.
RK: Não, ela não é, e por isso é tão estranho… Se eu tivesse lido o roteiro, teria interpretado a personagem de maneira muito mais restrita. Não consigo descrever, mas foi muito especial. Foi muito interessante e queria que você falasse sobre isso.
KS: Foi em um bom momento, pois envelhecer e escolher as coisas certas para você contribui para isso, porque me diverti muito. Eu não queria parar de filmar nunca. Queria que ultrapassássemos o cronograma. Tivemos sorte porque tivemos a chance de voltar e fazer “refilmagens”, o que realmente pareceu uma extensão do processo. O roteiro era preciso, mas tudo parecia maleável o tempo todo… [Rose Glass] realmente permitiu que as pessoas entrassem e habitassem este espaço de uma forma que é rara, e eu realmente adorei a oportunidade e fiquei obcecada pela Lou. Ela era alguém que eu realmente precisava defender o tempo todo… Ela é uma protagonista que é tão satisfatória porque todos nós temos esse demônio e esse monstro lá dentro que diz: “Talvez eu possa ser horrível. Talvez eu possa me assustar muito.”
Além disso, em questão de tom, essa pessoa é alguém que não está acostumada com os olhares, então há uma coisa estranha e irônica que acontece nesse filme para mim. Estou tão ciente do fato de que ela geralmente não é a personagem principal. Sempre que a câmera está em mim, e na Lou, penso: “Espera, tá de sacanagem?” Estou me divertindo e provavelmente foi o que você sentiu. Ela é fechada, estranha, bruta e precisa de muita terapia, mas foi tão divertido interpretar a pessoa boa e afável que… não precisa ser moralmente decente ou que passe por algum processo que faz todo mundo se sentir bem em relação aos filmes e histórias que contamos sobre mulheres. Fiquei muito animada com o quanto o papel era diferente, divertido e sexy de uma maneira “foda-se”. Pensei: “Rose, quem é você?!”
RK: Me surpreendi constantemente com esse filme e com a sua personagem. Pensava: “Ok, é isso. Essa é a personagem”, e então era diferente. Você trouxe tanta textura para ela. Sabe quando você assiste algo e pensa: “Ah, não teria pensado nisso. Não teria feito assim”? Amo quando assisto performances desse tipo. Há momentos em que você é tão engraçada.
KS: Me sinto assim em relação a você o tempo todo. Não é sem sentido. É reciprocidade verdadeira. Me sinto assim genuinamente sempre que assisto você em um filme.
RK: Obrigada! Não foi… o que eu esperava, o que eu teria feito ou escolhido, então realmente amei assistir você.
KS: Rose tinha que me lembrar consistentemente do tom, porque eu sempre diminuía e ela dizia: “Não, não.” Ela nos levava em direção ao balístico, tipo, bombástico. O quanto a Anna Baryshnikov é boa no filme?
RK: Minha nossa, eu pensava: “Essa menina é tão doida.” A atuação foi muito boa. Todo mundo era psicótico.
KS: Ela me impressionou tanto ao vivo. Tenho tendência a provavelmente ser irritante para diretores. Levo as coisas de forma muito literal no momento por algum motivo, então depois de alguns dias, digo: “Não sei por que fiquei tão presa naquilo. Sinto muito mesmo. Era um detalhe tão irrelevante.”
RK: Às vezes, a atuação é como se você estivesse bêbada ou algo assim porque você não está completamente dentro de si. Eu me comporto de maneiras que não são normais e fico com a visão totalmente focada. É tipo: “Sinto muito pelo meu comportamento.”
KS: É, você vai dormir de noite e percebe quando acorda, assim como acontece se você foi idiota enquanto estava bêbada.
RK: Como foi a preparação para esse filme?
KS: Bem normal. Lemos o roteiro algumas vezes juntas e provavelmente tivemos conversas diferentes sobre ele ao mesmo tempo. Todos falavam uns com os outros sobre coisas diferentes e não chegávamos em nenhuma conclusão esclarecedora. Na verdade, tive que fazer o contrário… Eu tinha parado de fumar antes das filmagens, então realmente foi uma merda voltar.
RK: Eu fiquei curiosa. Você estava fumando cigarros falsos?
KS: Não, eram de verdade.
RK: Pensei: “Não tem como ela estar fumando cigarros falsos.”
KS: Eca. Não consigo.
RK: São tão nojentos.
KS: São horríveis e eles não fazem fumaça. Entende? Eles ardem, entram nos olhos e você parece uma fracassada. Mas foi horrível. Foi parte da preparação.
RK: Por que você parou de fumar?
KS: Acho que é algo que todos devemos fazer em algum momento de nossas vidas.
RK: Você parou mesmo?
KS: Sim, não gosto de fazer promessas e tal, mas não gosto mais de fumar cigarros. A Lou fuma cigarros pra caralho no começo do filme, e Rose faz takes. Nós não fazemos as coisas três vezes. Foi divertido. Sempre fomos além. Esse filme tirou alguns anos da minha vida, mas valeu a pena. Eu o amo, mas não foi legal.
RK: Ok, vou olhar as perguntas na minha lista…
KS: No que você está trabalhando agora?
RK: Um filme em Londres. Estou ensaiando.
KS: Que legal. É um cronograma de ensaios muito legal e confortável. Que luxo.
RK: Sim, só trabalho oito dias ao todo, então tenho um tempo para relaxar.
KS: Exceto que não é relaxante trabalhar oito dias em um filme, porque então você pensa: “Ok, é melhor eu arrasar.”
RK: Não sei o que é, mas um papel coadjuvante é muito mais estressante para mim. Você sente isso?
KS: Sim, você se tortura porque põe tanta pressão no seu tempo limitado para passar algo. Recentemente precisei sair de um filme que sei que vai ser espetacular. É daqueles em que o roteiro é tão prosaico. É basicamente uma novela, daria para publicar. Os atores são dois dos meus favoritos atualmente, são jovens também. Eles são pessoas emocionantes que são incríveis pra caralho… Detalhes à parte, meu filme [The Chronology of Water] acabou de receber financiamento.
RK: Fiquei sabendo! Devemos falar sobre isso. Que emocionante. Depois de quanto tempo tentando?
KS: Por mais ou menos três anos… Mas estive segurando essa ideia por seis anos. Foi quando começou o processo de adaptação. Fui para a Letônia. Cara, espacial e ambientalmente, essas áreas do planeta estão se abrindo para nós e para a história de uma forma tão viva, e é tão oficial para mim porque faz tanto tempo. Eu vou abrir a porta certa e surtar. Só de saber as pessoas que estão nos ajudando a fazê-lo, a equipe que montamos, o elenco atual, a maneira como está se desenvolvendo… Tudo isso, o quanto a Imogen [Poots, atriz principal] está comprometida há tanto tempo, parece mais pessoal. Sinto que criei um corpo vivo fora do meu. É um clichê tão grande, mas parece um animalzinho levado, e estou tão orgulhosa quanto com medo… tipo, completamente Frankenstein.
Estou com medo de onde pode nos levar, mas também estou incentivando a irmos até o limite. Acho que a Imogen aguenta, ela é forte o bastante fisicamente. Ela está no momento perfeito da vida. Estou tão feliz por ter demorado tanto porque as coisas se abriram de uma maneira que vai criar um filme melhor. Eu acho que é… o timing perfeitamente exato, e estou muito animada. Vai ser rápido. Três meses e acabou.
RK: Vai acabar, então aproveite cada momento estressante. As duas coisas na minha vida que tiveram um timing divino, até agora, foram o nascimento da minha filha e dirigir o meu filme. Realmente acontece quando deve ser e é tão estranho. É uma coisa realmente mágica que não aconteceu tantas vezes em outras partes desse trabalho, como a atuação e tal.
KS: Sim, porque você está colhendo alguma coisa… Outras pessoas geraram a coisa. Você pode encontrar áreas para encaixar sua pessoa, sua personalidade e vida interior, mas é exterior. Você passa por alguma coisa do lado de fora. É um impulso autogerador tão diferente, semelhante ao do útero.
RK: Parece tão simples, mas é tão mágico ver algo sair da sua imaginação e se realizar… Olha, fazemos tantos rascunhos. Às vezes esquecemos o que deixamos e o que tiramos. Você está fazendo o seu trabalho, o que quer que seja como diretora, e então alguém entra segurando uma caneta amarela porque você escreveu: “Ela está segurando uma caneta amarela.” E você pensa: “Uau.”
KS: Uau, escrevi isso seis anos atrás. Obrigada por notar esse detalhe, pessoa.
RK: Essa coisa toda ganha vida e é tipo: “Uau, todas essas pessoas estão transformando minha ideia em realidade, que loucura.” É como mágica.
KS: É tão divertido falar com você sobre isso porque não conseguimos falar quando estamos dirigindo, então é tão louco colocar em termos básicos assim, em que você diz: “Como fiz isso?” Então é tomado e transformado em algo que vive e respira. Eu sei que é apenas um presente, mas realmente testemunhar… Isso é uma citação do livre: “Testemunhe a vontade.” Precisa de tanta vontade e disposição. Dirigir consiste em procurar pelas pessoas certas que querem algo tanto quanto você, e talvez você queira algo diferente, mas canalizar todo esse desejo é tão emocionante. Vocês vão dirigir um novo filme? O que vão dirigir agora?
RK: Estamos escrevendo três filmes porque somos confusas. Me sento e escrevo 10 páginas e penso: “É esse”, e então fico sem inspiração para continuar escrevendo por um mês e volto para o outro. Estou me permitindo ser lírica e emocional no meu processo de escrita porque é o melhor jeito de escrever para mim.
KS: Sinceramente, há muitas maneiras de entrar na história. Para mim, é sempre detalhe versus qualquer coisa abrangente, e isso provavelmente é minha fraqueza e minha força, o que faz sentido porque sou atriz. Acho que é algo que não devemos evitar, especialmente se você trabalha com roteiristas ou está cercada de pessoas que têm uma abordagem mais prática. É fácil ficar com inveja disso, mas também é muito legal poder dizer: “Sim, mas os meus momentos brilham pra caralho.”
RK: Sou roteirista autodidata como você. Não fiz faculdade para escrever roteiros e levei um minuto para aprender… bem, um minuto tem sido dez anos. [Risos]
KS: Você está tipo: “Desculpa, por que estou sendo modesta?”
RK: [Risos] “Na verdade, sou profissional.” Levei muito tempo para encontrar o equilíbrio entre o que funciona para mim e a estrutura. Não consigo escrever com a estrutura em mente. Tenho que escrever do meu jeito, e então…
KS: Encontrar um esqueleto para suporte. Esses momentos que você gosta de sonhar estão todos conectados. Não estão desconectados. Deixe eles livres, então você pode encontrar uma maneira de juntá-los.
RK: Total. Eu sou um pouco disléxica e muitas vezes escrevo o fim primeiro, é o que funciona para mim. Só sigo o caminho que me leva. Não fico sentada pensando: “Ok, vou trabalhar das 15 às 16h, só vou escrever.” Não consigo.
KS: Meu cérebro funciona melhor pela manhã. Eu adoraria viver aquela vida romantizada de escrever durante a noite, mas acordo pela manhã, me comprometo e não digo uma palavra até terminar.
RK: Tenho uma coisa engraçada em que sou um monstro em um avião.
KS: Eu também! Acabei de fazer isso. Li o livro de capa a capa, fiz uma revisão completa e escrevi três cartas de amor para atores.
RK: Eu preciso voar uma vez por semana porque escrevo tanto em um avião. Sei lá. Talvez por estarmos mais perto de Deus.
KS: [Risos] Uau. Enfim, mal posso esperar para encontrar a coisa certa para fazermos juntas. Além disso, penso em nossas empresas como irmãs, é muito fofo. Dizemos: “Vamos ler tudo de vocês. Podem ler os meus?” Sinto que somos novatas… não de um jeito modesto, mas só acho que nós duas vamos longe com essas coisas. Mal posso esperar para crescermos juntas.
RK: Aw.
KS: Eu imagino duas casas e penso: “O que elas estão fazendo para o jantar? O que tem na cozinha?” Estou tão curiosa para saber o que vocês estão cozinhando, cara.
RK: É realmente inspirador assistir seus amigos trabalharem bem. O que nos leva de volta a Love Lies Bleeding porque eu pensava: “Eu amo meus amigos. Eles são tão talentosos!”
KS: Não é o melhor sentimento do mundo? Tenho muita sorte.
RK: Eu amo me sentir dessa forma porque essa indústria pode ser tão competitiva, especialmente quando lembro dos meus 20 anos fazendo testes contra todas essas meninas e como eu me sentia… como era ser comparada a elas.
KS: O palavreado em torno das atrizes era muito mais desagradável naquela época.
RK: Era uma época maluca. Também era uma época em que éramos tão radicais. Cada papel que conseguia, eu pensava: “Não sou essa pessoa.” Todas as personagens eram garotas perfeitas. Todos os papéis eram a garota loira perfeita. Elas eram todas iguais, e eu dizia: “Não posso interpretar isso. Não consigo. Não é minha especialidade.” Eu ficava tão frustrada, porque nunca seria esse tipo de garota.
KS: Bem, esse tipo de garota não existe. É um arquétipo que deixa as pessoas confortáveis, e algumas pessoas na vida real interpretam essas garotas. Em algum ponto, fica muito difícil. Não acho que seja sustentável.
RK: Acho que por isso você era tão emocionante… Você interpretava as personagens principais, mas do seu jeito. Isso é muito mais comum agora. Os papéis para nós são mais complexos, mas é que torna todas as suas atuações tão poderosas e por que elas se conectam tanto… as meninas estavam assistindo uma menina que não viam sempre.
KS: Eu tentei interpretar aquela garota também. Tentei quando deveria.
RK: Sim, mas simplesmente não há uma parte daquilo em você. Enfim, estou feliz por termos mais oportunidades hoje em dia… Quando você vai filmar o seu filme?
KS: O fato de estarmos no telefone agora é tão… Vai me fazer vomitar porque estou ocupada e preciso fazer outras coisas agora. Estou esperando pela neve. Nos meus sonhos, posso escalar atores para os quatro papéis principais muito rápido, vamos fazer uma dança da neve e torcer por uma tempestade antes de entrarmos em preparação completa para que eu possa fazer uma pré-filmagem. Praticamente só preciso de uns quinze filhos da puta no meu set. Podemos fazer tudo tão pequeno. Vamos filmar em 16 milímetros. Quero filmar um pouco do cenário antes de começarmos. Eu quero criar uma vibe e dizer: “Acreditem, é tudo o que precisamos daqui pra frente a menos que tenhamos dias maiores.” Então, torça pela porra da neve… No geral, essas duas sequências vão nos fazer parecer um filme maior, e se não conseguirmos, vamos começar no dia primeiro de abril.
RK: Bem, isso é muito emocionante. Estou muito feliz por você.
KS: Eu sei! Estou muito assustada e animada, parece que estou vivendo em uma simulação. Não é real e nada importa. Além disso, o sentimento muda dependendo da hora do dia. Pela manhã, eu acordo e literalmente: “Me sigam até o inferno, filhos da puta. Posso fazer qualquer coisa.” À noite, se estou sozinha em um quarto de hotel, fico pensando por que disse para todo mundo que deveríamos fazer esse filme.
RK: Acho que esse é o espectro da direção. É tão intenso. Bem, não tenho nenhum conselho para você porque não sei o que estou fazendo, mas estou tão animada porque é uma aventura maluca.
KS: Queria que você estivesse lá. Não quero te contar, quero que você esteja lá. Vai ser divertido pra caralho. Precisamos fazer um filme juntas.
RK: Ok, vamos. Literalmente disse hoje de manhã para a Gina [Gammell]: “Precisamos encontrar algo para mim e Kristen fazermos porque seria muito divertido.”
KS: Sim! Ok, bem, vamos desligar o telefone. Acho que acabamos, né?
RK: Sim.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart esteve na premiere de Love Lies Bleeding em Beverly Hills, Califórnia, na última terça-feira (05). A atriz posou ao lado da diretora, Rose Glass, e das colegas de elenco Katy O’Brian, Jena Malone e Anna Baryshnikov. Confira as fotos e vídeos abaixo:

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Kristen Stewart esteve no Berlinale durante o fim de semana para participar do photocall, da conferência de imprensa e do tapete vermelho de Love Lies Bleeding no festival. Abaixo, você confere as fotos e um resumo do que foi falado durante a conferência:

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Kristen Stewart esteve em Berlim no fim de semana para a estreia de seu thriller lésbico ‘Love Lies Bleeding’.

Stewart interpreta uma gerente de academia azarada, Lou, que se apaixona por uma garota musculosa e fisiculturista amadora, Jackie (Katy O’Brian). No entanto, Jackie trabalha para o pai de Lou (Ed Harris), um contrabandista de armas e proprietário de um campo de tiro. Quando a irmã de Lou (Jena Malone) é agredida pelo marido (Dave Franco), Jackie resolve o problema com as próprias mãos.

A atriz, que presidiu o júri do Berlinale no ano passado, disse aos jornalistas durante a conferência de imprensa que a oportunidade de trabalhar com a cineasta Rose Glass foi um dos principais atrativos do projeto “balístico” para ela.

“Definitivamente fiz esse filme pela Rose”, disse Stewart. Saint Maud é um dos meus filmes favoritos. Viramos amigas imediatamente. Ela me apresentou o projeto e disse que a A24 estava disposta a dar muito dinheiro pelo segundo filme dela, o que foi legal pra caralho. O roteiro era muito interessante.”

Perguntaram a Stewart se o filme a ajudou a estabelecer um novo padrão em sua mente sobre como histórias queer são contadas, e como nem sempre elas precisam ser histórias sobre pessoas se assumindo.

Stewart reconheceu: “Acho que não podemos continuar fazendo isso… Estivemos aqui o tempo todo. A era dos filmes queer sendo claramente só sobre isso acabou, já deu.” A atriz disse que gostou de explorar uma variedade de personagens e papéis e nem sempre sentir que “preciso estar em um palanque e ser a porta-voz de todo mundo.”

A atriz de ‘Crepúsculo’ e ‘Spencer’ citou ‘Agora e Sempre’ e ‘Desejo Proibido’ como alguns de seus filmes queer favoritos.

Perguntaram várias vezes para Stewart sobre a revista Rolling Stone, cuja capa era uma foto da atriz com as mãos dentro de uma jockstrap. Ela disse que se divertiu muito na entrevista, mas que gostaria que a capa tivesse ido mais fundo na representação da sexualidade queer.

“A jornalista foi ótima e moldou a história muito bem. Mas gosto de como o título do artigo era ‘sem censura’ e então a capa inteira foi censurada porque a existência de um corpo feminino exibindo qualquer tipo de sexualidade que não foi projetada ou desejada exclusivamente por homens cis hétero deixa as pessoas muito desconfortáveis.”

Ela disse que ‘Love Lies Bleeding’ coloca uma noção alternativa de força e sexualidade em primeiro plano: “As pessoas que geralmente não olhamos estão na frente e no centro nesse filme… Nós brincamos com a ideia da força.”

Stewart adicionou: “As entrevistas que fazemos como artistas mulheres promovem essa ideia de empoderamento de forma tão imponente porque deixa todo mundo mais confortável com o fato de que fomos tão oprimidas. Mas tudo bem tirar fotos diferentes, dizer que fazer isso também está tudo bem. É maluco que não existam mais fotos como aquela. Não é nada demais.”

Ela brincou que mal podia esperar “para participar de uma conferência de imprensa por todas as perguntas complementares” em relação à capa da revista.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart é capa e recheio da nova edição da revista Rolling Stone como parte da divulgação de Love Lies Bleeding, novo filme de Rose Glass estrelado por ela e Katy O’Brian. Na entrevista, Kristen fala sobre lidar com a ansiedade no passado, sobre a preparação para The Chronology of Water e seus planos de engravidar no futuro. Confira as fotos e leia a entrevista:

PHOTOSHOOTS > PHOTOSHOOTS 2024 > ROLLING STONE

Kristen Stewart é forte pra caralho, e não digo de forma metafórica. Por exemplo, não estou falando sobre qualquer experiência do passado que ela tenha “superado”, como aquela vez em que fez aqueles filmes de vampiros e lobisomens e foi considerada a Atriz Mais Odiada do Mundo porque não parecia animada o suficiente de se sentar em uma sala rodeada por jornalistas e discutir dar uns amassos nos seus colegas de elenco. Ou a vez em que foi fotografada beijando o diretor muito mais velho (e casado) de Branca de Neve e o Caçador, e, por conta do terror que isso gerou, foi banida da sequência. Não estou falando da coragem que foi necessária para interpretar Joan Jett na frente de Joan Jett. Ou a coragem que foi necessária para interpretar a Princesa Diana na frente do mundo inteiro. Ou a coragem que foi necessária para se assumir no SNL respondendo os tweets maldosos de um apresentador de reality show maluco que virou presidente. Em outras palavras, não estou falando de “força” como uma descrição dada para mulheres famosas que não sucumbem aos rótulos que a sociedade coloca nelas. Não. Estou falando, de forma bem literal, sobre os bíceps de Kristen Stewart.

Ok, vamos recapitular. É o começo de uma tarde de janeiro. Estamos em um grande deck bem situado na encosta de Los Feliz, com uma vista deslumbrante da folhagem tropical. O tempo voltou àquela perfeição meteorológica branda, endêmica em Los Angeles, apesar de uma manhã que estava de pernas para o ar, derrubando uma pequena árvore no quintal de Stewart. “Que porra de energia maluca de bruxa você trouce para L.A.?!!” dizia um email na minha caixa de entrada quando acordei. “O tempo está maluco aqui fora!” Era a mensagem mais recente em uma corrente que começamos para tentar planejar nosso segundo dia juntas, embora a troca tenha regredido (desenvolvido?) para recomendações de livros e artigos e uma confissão de Stewart de que, quando se trata desses tipos de entrevista, “a ansiedade é real.”

Por fim, ela me convida para o que ela já havia planejado fazer de qualquer forma naquela tarde: kickbox com seu treinador Rashad. Supostamente, estamos nos encontrando para que ela possa divulgar Love Lies Bleeding, um thriller romântico dirigido por Rose Glass, em que Stewart interpreta uma gerente de academia que cobiça uma fisiculturista (interpretada por Katy O’Brian) que, como Stewart descreve, “chega e sacode a lata de Coca-Cola, mas explode e todo mundo se suja” (a “sujeira” é a maneira mais estranha possível de descrever o inferno sangrento, suado e movido por identidade que acontece depois). Nesse contexto, kickbox é algo clichê adjacente à divulgação de filmes que Stewart provavelmente recusaria fazer, e portanto, imaginamos, é a coisa mais subversiva que ela poderia fazer. “Menos conversa, mais rock”, aconselha ela.

Por enquanto, está bastante estabelecido que “subversivo” é a praia de Stewart. Imagine-a aos 17 anos se recusando a interpretar Bella Swan de maneira alegre e olhos brilhantes como os adultos tinham em mente, e escolhendo andar triste por aí como se realmente estivesse apaixonada por um morto-vivo. (“O estúdio estava tentando fazer um filme para crianças. Eles não queriam o que realmente estava no livro. Quando é que Bella e Edward sorriam?”) Então, depois de passar cinco anos em uma franquia que arrecadou mais de 3,5 bilhões de dólares na bilheteria mundial, gerou coisas como secadores de cabelo de Crepúsculo e momentaneamente fez de Stewart a atriz mais bem paga do mundo, houve a transição de uma vez por todas (em sua maioria) para os filmes independentes, que ela fazia entre os filmes da saga, às vezes filmando três ou quatro por ano. Houve Acima das Nuvens, pelo qual ela recusou o papel principal para interpretar a assistente um pouco despojada, e que a levou a ganhar um César (o equivalente francês do Oscar), a única mulher americana a conquistar esse feito. Houve Spencer, que a concedeu uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Atriz por sair de sua zona de conforto com tanta habilidade. Depois que nos encontramos, ela viajou para Park City, em Utah, onde foi homenageada com o Visionary Award enquanto estreava seu 11º e 12º filme no festival — Love Lies Bleeding e Love Me, um romance pós-apocalíptico no qual ela interpreta uma boia ao lado do satélite de Steven Yeun (“Basicamente, a internet, o universo que conhecemos, está contido em uma máquina, e eles buscam entender como podem namorar”, explica ela). “Estávamos começando a filmar, e havia possibilidade de ser uma cena muito tensa”, Yeun me conta sobre trabalhar com Stewart em um projeto tão incomum. “Ela só colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Ei, eu gosto de você.’ Isso desfez toda a névoa no meu cérebro. Ela é muito profunda e legal dessa forma.”

A profundidade e a frieza fizeram de Stewart uma escolha óbvia para papéis contraculturais, mulheres que se destacam porque estão distantes de qualquer coisa ao redor. Mas também são as qualidades por trás da habilidade de Stewart de fazer personagens parecerem contraculturais pela virtude do fato de que ela os interpreta, levando uma timidez e restrição que parecem ser inimigas em uma franquia em que ela precisa dizer, em voz alta, falas do tipo “Olá, bíceps!”, mas brilha em um nível mais sutil. “Ela entende como as pessoas se disfarçam e consegue interpretar isso, o que torna o trabalho dela tão interessante e diferente”, diz Jodie Foster, que começou a filmar O Quarto do Pânico com Stewart quando ela tinha 10 anos. “Eu me lembro de ficar maravilhada com essa criança.”

Quando chego na casa dela, Stewart, agora com 33 anos, está acordada há muitas horas. Houve uma época em que ela tinha “um relacionamento muito fodido com o sono”, mas agora ela dorme e acorda cedo, trabalhando pela manhã com a noiva Dylan Meyer em um dos muitos projetos encabeçados pela Nevermind, a produtora que as duas fundaram com Maggie McLean em 2023. (Stewart me diz que não foi nomeada em homenagem ao álbum do Nirvana, mas que compartilham o desejo da banda de “mudar as coisas para melhor de alguma forma”.) “Dylan e eu estamos escrevendo uma coisa, então valorizamos as primeiras três horas do dia. Nossos cérebros funcionam bem nesse horário”, diz Stewart. “Quando ela se mudou para essa casa, eu não tinha cortinas, tinha três garfos, nunca bebia café e não dormia. Ela disse: ‘De manhã, você bebe café e trabalha, você está viva, acordada e de noite, você fecha as cortinas.’ Pensando bem, era óbvio.”

Quando Stewart me leva para o lado de fora, Meyer já está no deck, vestindo uma camisa branca do New Order enquanto Rashad arruma os tapetes de ioga e pesos livres. Logo Stewart coloca uma playlist e Rashad está nos fazendo “separar as omoplatas e concentrar no abdômen” ao som de Vivien Goldman enquanto a vira-lata preta de Stewart, Cole, vaga por entre os tapetes. Nos alongamos e treinamos luta, então chegamos no momento sobre o qual Stewart me avisou: a competição de flexão em uma barra fixa em uma engenhoca independente instalada no deck. Eu faço aproximadamente nenhuma. Meyer consegue várias. Stewart faz flexão atrás de flexão, depois troca para uma posição diferente e faz mais algumas, e todos olhamos admirados.

“Você deveria saber que a Kristen é boa em tudo. É inspirador, mas também irritante”, Meyer me diz baixinho sem um pingo de irritação de verdade.

“Vamos, vamos, vamos!” grita Rashad. “Você é forte pra caralho, vamos!”

Stewart finalmente desce da barra, ofegante.

Ela abre aquele famoso sorriso de canto e olha para os protetores corporais: “Vamos para o ringue.”

Foi a subversão da ideia de uma “mulher forte” que levou Stewart até Love Lies Bleeding, ela havia me contado algumas semanas antes, sentada no sofá de couro preto de sua sala de estar embaixo de grandes letras de metal que formam a palavra ASS (bunda em inglês). Nesta tarde, está chovendo e a vista pelas portas de vidro quase não vai além do deck, onde além da barra de flexão, há uma banheira com pés que Stewart tirou de um dos banheiros e colocou do lado de fora (“Quebra muito, mas é bem legal tomar banho aqui fora”). Pouco imponente por fora, a casa desce a encosta de maneira elegante, mas é mobiliada de forma aleatória e um pouco mal cuidada. Do outro lado da sala, onde um manequim de plástico branco está em um banco com vários roteiros e papéis da Nevermind, há uma parede de livros de um lado (Mary Shelley, Jack Kerouac, Kim Gordon, Kathy Acker) e um tipo de sala de jogos do outro, composta por uma mesa de sinuca laranja, uma máquina de pinball da Playboy, uma fileira de armários de metal e uma geladeira com um grande adesivo de risco biológico laranja na porta. Uma sala ao lado da cozinha possui um sofá em desintegração, uma bateria e uma coleção de violões e guitarras. Perto da escada, infiltrações marcam o teto e as palavras “a vida é bonita” estão pichadas em tinta vermelha.

“Só pra você saber, essa pichação… você conhece o Mr. Brainwash?” Stewart aponta ironicamente para a parede. “Ele veio aqui com um amigo meu e fez isso, eu fiquei tipo: ‘Então, eu sei que eu meio que vivo em uma república, mas isso é psicótico.’ Sabe? Pensar que você pode fazer isso na porra da casa de alguém.” Durante a pandemia, Stewart pichou “PRINCIPALMENTE” em letras maiúsculas. “Enfim,” continua ela, dando de ombros, “só para contextualizar que: foda-se esse cara.”

Stewart comprou a casa há 12 anos, como um lugar para “se esconder” durante o término com Robert Pattinson, na época em que ambos tinham que andar nos porta-malas de carros para tentar evitar os paparazzi. Em teoria, ela entende o interesse que as pessoas ainda tem nesse relacionamento, entende mesmo, mas me diz mais tarde: “Rob e eu não podemos continuar falando disso, porque é estranho pra caralho. É como se alguém continuasse perguntando, literalmente por décadas, sobre o último ano da escola. Você responde: ‘Incrível pra caralho, cara! Sei lá!’”

Qualquer que seja sua restrição nos filmes, hoje Stewart é animada e cheia de alegria. Pouco depois de começarmos a conversar, ela começa a perambular, sem avisar, para trocar os sapatos de couro preto por tênis (“Gosto de sapatos macios. Fui em um lugar hoje e me arrumei, mas agora estou aqui pensando: ‘Por que estou com esses sapatos grandes?’”). Alguns minutos depois, ela perambula de novo (“Ela continua andando para longe de mim”, Stewart narra da minha perspectiva), e retorna da geladeira com o adesivo de risco biológico com duas cervejas. “Pode beber se quiser”, ela anuncia. “Eu vou beber uma.”

Abrimos as latas. Ela retorna para o sofá. Stewart está usando uma camisa preta desgastada com buracos nas duas axilas, jeans preto largo e esmalte preto descascado. Seu cabelo está em um rabo de cavalo, com mechas escapando.
“Você já sabe o que vai…” ela para. “Eu sei que os atores ficam na defensiva. Não quero dizer, tipo: ‘Já sabe o que vai escrever?’ Mas você já, sei lá, tem um rascunho ou algo assim?”

Não, digo para ela. Acabamos de nos conhecer. Como saberia os rascunhos da história?

“Ok, beleza.” Ela se inclina na minha direção, as pernas abertas e os cotovelos apoiados no joelho. “Vamos pensar em alguma coisa.”

Há muito para dizer sobre Love Lies Bleeding, então podemos começar por isso. E foi assim que aconteceu: Stewart estava em Londres para a estreia de Spencer. Na manhã seguinte, sem dormir (“Estávamos fazendo coisas inglesas”), ela desceu ao saguão do ostentoso hotel de coletiva de imprensa para se encontrar com a diretora Rose Glass, cujo filme de estreia, Saint Maud, um sonho febril psicológico sobre obsessão religiosa, encantou Stewart. Elas se sentaram em uma mesa ao lado e beberam chá. Glass explicou que o que as pessoas queriam dela a seguir era um filme sobre uma mulher forte, uma personagem principal forte.

“O que isso significa?” Stewart pergunta agora, apertando os olhos. “É besteira. Significa que não estamos deixando as mulheres realmente se definirem. É a suposição de que precisamos ser empoderadas pelas pessoas que decidem quem terá perspectiva, que temos que fornecer algo inspirador. É a coisa mais básica que existe.” Glass revelou que havia pensado em uma maneira de subverter essa expectativa: levando a sugestão de maneira literal. “Ela disse: ‘Garota forte? Fisiculturista. Entendi.’ Simples assim.”

Quando saiu da reunião, Stewart sabia que ficaria com o papel que Glass havia escrito com ela em mente — Lou, a gerente de academia, que é masculina, forte e fechada como um punho, até que a fisiculturista, Jackie, explode o mundo dela — mas não assinou o contrato até retornar para Los Angeles e ler o roteiro. “Eu estava jantando com alguns amigos em casa quando recebi a mensagem”, diz Glass sobre receber a notícia. “Acho que eu já estava um pouco bêbada. Só me lembro de muitos gritos e pulos animados.”

Depois disso, Stewart terminou a campanha esperada de atores indicados ao Oscar (“Começa a parecer que você está dando uma aula sobre o seu filme”) e então viajou para Albuquerque, New Mexico, onde filmaria Love Lies Bleeding, e apareceu na casa de Glass com um cabeleireiro para destruir o cabelo loiro de Diana, chegando até a pegar a tesoura no final para fazer parecer com que Lou tivesse cortado o próprio mullet. “Assim que cortei o cabelo, disse: ‘Tchau, para sempre’” Stewart diz sobre deixar Spencer para trás.

Lou era uma história muito diferente, uma personagem cujo mundo decadente e musculoso não poderia ser mais diferente da gaiola dourada da Princesa Diana, cujas cenas de sexo eram apenas sobre o prazer feminino e sobre o corpo feminino, que não era inspiradora ou estava partindo em uma jornada de autodescoberta e que não era o tipo de pessoa que é personagem principal em um filme. “Foi divertido pra caralho ter a irmãzinha masculina como a protagonista de um filme”, diz Stewart. “Esse nunca é o tipo de personagem principal em um filme. Nunca é a pessoa com quem você quer transar. Quer dizer, algumas pessoas querem, mas não é o que é prescrito.”

Como uma estrela de cinema assumida — “e não há muitas” — pareceu pessoal de uma forma que Stewart não esperava: um filme queer que não envolvia a narrativa de “sair do armário”, e no qual o elemento queer era menos um enredo e mais um estilo. Ela já havia falado sobre seus papéis não como uma forma de escapismo, mas como maneiras de explorar facetas diferentes de sua identidade — imaginar quem ela talvez fosse se sua “natureza” tivesse sido exposta a uma “criação” totalmente diferente. Mas ela me contou que interpretar a Lou foi como voltar para sua “primeira configuração”. “É um retorno muito estranho e um pouco emocionante de alguma forma. Tipo como você é aos 11 anos — fisicamente, as roupas que você escolhe usar — antes de ser atingida pelas expectativas masculinas.”

Ela dá um gole na cerveja e se encosta no sofá. “Nunca senti que apresentei uma feminilidade para colher os benefícios como se fosse mentira”, continua ela. “Eu sou muito fluida e nunca senti que tipo: ‘Ah, uau, menti por tanto tempo para conseguir trabalhos.’ Isso seria errado. Me diverti brincando com todas as qualidades tonais, mas há muito mais espaço para o sucesso quando você escolhe o feminino. Não há espaço para o outro.”

Ok, vamos recapitular de novo. Porque a criação é importante, aqui estão alguns traços gerais.

Stewart cresceu em um bairro nobre de Los Angeles em Woodland Hills. O pai dela era gerente de palco e trabalhou em programas como o Oscar e Fear Factor, e Stewart odiava quando ia trabalhar com ele por conta de toda a correria e alvoroço (“Eu me escondia na sala de mixagem de som e tocava baixo com eles”). A mãe dela era supervisora de roteiro e trabalhou em filmes como Mortal Kombat e O Pequeno Grande Time, e Stewart amava ir trabalhar com ela — o silêncio e a calma, o sentimento de que todos estavam trabalhando juntos para elevar uma bolha frágil de faz de conta. Quando ela tinha 8 anos, e porque havia percebido que a atuação era o único trabalho que as crianças podiam fazer que permitia que faltassem as aulas, Stewart pediu para a mãe levá-la em um seminário de testes, uma daquelas lojas de departamento em que você é fotografado e prometem te conectar com alguns agentes se não for tão ruim. Stewart, cuja experiência com atuação naquele momento consistia em reencenar cenas de Titanic no parquinho da escola, descobriu que não era.

Ela conseguiu um comercial da Porsche. Depois, conseguiu Encontros do Destino. Então, David Fincher assistiu ao comercial da Porsche e pediu para seu pessoal encontrá-la, e assim ela conseguiu O Quarto do Pânico. “Todo mundo disse na época: ‘Olha, se essa criança quiser continuar fazendo isso, ela com certeza tem a sagacidade e a sensibilidade’”, Fincher me conta. “Mas quando você está ao lado de Jodie Foster, e a pergunta sendo feita para uma criança de 10 ou 11 anos é: ‘O que você quer fazer pelo resto da vida?’… a Jodie é extremamente protetora com pessoas que não são capazes de tomar esse tipo de decisão. Jodie dizia: ‘Ela não precisa pensar nisso. Precisa pensar no que vamos fazer antes do almoço.’”

Enfim, Foster não podia fazer muito: quando o momento chegou para Stewart, as perspectivas de carreira não tinham nada a ver com isso. Era a puberdade. “Foi assim que eu comecei a querer transar”, Stewart especifica o momento na sexta série em que tudo passou de “tudo está maravilhoso” para de repente se sentir como “não consigo encontrar palavras e quero que meu rosto esteja na parte de trás da minha cabeça ao invés da frente.” Ela bebe mais um gole de cerveja. “A puberdade é uma merda.”

Há algumas lembranças importantes aqui: a época em que ela foi para a escola sem depilar as pernas e alguém disse: “Ecaaaa”; quando ela acidentalmente bateu no saco de um amigo e ele grunhiu: “Ai, seu homem de merda!”; a maneira como os meninos tratavam sua amiga feminina Britni em relação a como tratavam ela. “Eu estava ciente de que os meninos que eram meus amigos não me viam como uma pessoa para transar”, diz ela. “Minha sexualidade é totalmente fluida. Estou por todo o mapa, e acho que era naquela época. Mas eu também queria ser normal e gostosa, então pensei: ‘Beleza, vou fazer o possível para tentar entender como parecer uma menina para esses meninos gostarem de mim.’ É isso. Uma história totalmente normal.” Exceto que não aconteceu de forma normal porque naquela época ela estava a caminho de gravar filmes como Na Natureza Selvagem, Férias Frustradas de Verão e, como parte de seu teste para Crepúsculo, acredite se quiser, rolar na cama da diretora Catherine Hardwicke com Pattinson.

O que quer dizer que enquanto Stewart ainda estava entendendo quem ela era e o que ser “transável” significava, o mundo estava ocupado ensinando as duas coisas para ela. Stewart não podia sair de casa sem o olhar masculino a seguindo na forma dos fotógrafos do TMZ e não podia se expressar sem se tornar o significante cultural de cada mulher que já ouviu: “Você é tão mais bonita quando sorri.” Além disso, era da época (“Os anos noventa e o começo dos anos dois mil eram péssimos para jovens mulheres. Você não acha?”) A ansiedade dela piorou tanto que ela deitava no chão dos banheiros, sem conseguir abrir os punhos — ficou tão ruim que, em um momento, ela precisou ser hospitalizada (“Eles diziam que eu estava desidratada. Eu não estava desidratada, estava surtando. Me deram uma intravenosa e um sedativo fraco, então comecei a me acalmar e meus punhos começaram a se abrir porque você atrofia, porra”).

Durante muitos anos, ela não conseguia entrar em um lugar sem verificar as saídas e precisava saber onde o banheiro estava o tempo todo (“Eu sempre pensava: ‘Quem sabe? Eu poderia entrar em combustão espontânea e virar uma poça de vômito agora’”). Houve um período em que ela não conseguia dormir, então ficou viciada em não dormir, pensou que ia morrer por conta disso, mas então, de alguma forma, não morreu. “Eu amava ficar triste e tal”, ela me conta. “Minha nossa, fiz disso um projeto de arte completo: minha vida.”

É claro, tudo isso foi há muito tempo. Stewart vai até a geladeira e pega mais uma rodada. Acontece que: ela cresceu, não é mais quem ela era. Mas ao mesmo tempo, de alguma forma, ainda é. Como uma mulher queer no olhar público, ela teve a oportunidade de pensar sobre sua identidade e o que tudo isso significa. Ela considera o seguinte arco das coisas: “É assim: Jodie [Foster], eu, boygenius”, diz ela, simplesmente, sobre as posições que ela imagina que todas ocupam no continuum celebridade queer. “Estou no meio, sabe? Jodie passou por momentos muito difíceis [como atriz gay], e não estou falando por ela, estou analisando objetivamente a época e o lugar em que Jodie estava sendo ela mesma, e isso não é fácil. Diria que é quase impossível se você quisesse continuar fazendo o que ama.”

“Para mim, não foi um problema”, continua ela. “Mas isso é provavelmente por conta do espaço que eu habito, das parte que me sinto atraída, os cineastas que se atraem por mim e o público que existe para os filmes. Se eu realmente quisesse conquistar mais um espaço comercial e mantê-lo, não sei se teria funcionado.”

Mesmo assim, ela aponta que, para ela, se assumir não foi um processo árduo. Ela estava muito “fisicamente assumida para o meu corpo” muito antes de se assumir publicamente no SNL. E até mesmo aquilo foi “um momento muito espontâneo”, diz ela. “Não pareceu esse derramamento de sangue.” Nem foi algo que ela havia planejado com antecedência. Stewart estava apenas sentada com os roteiristas do SNL, pensando: “Esse é o monólogo mais chato do mundo. O que vamos fazer? Que porra é essa?” quando alguém mencionou os tweets de Trump sobre ela. “Ele está com raiva de mim por trair o meu namorado?” respondeu ela. “Mal sabe ele…” Assim que as palavras saíram de sua boca, ela soube que tinha que usá-las. (E quanto aos pensamentos dela em relação ao Trump? “É claro que ele tinha que opinar sobre a minha humilhação pública. Foi tipo: ‘O que essa mulher de 20 anos que não faz ideia da vida está fazendo com esse homem?’” E: “Ele é um bebêzão.” E também: “Vai se fuder, filho da puta!”).

Ela diz que Foster tem sido como uma mentora para ela, um número que sempre estará guardado em seu celular, mesmo que não mantenha contato consistente, e está ciente de que a honestidade sobre sua identidade queer provavelmente tem sido um exemplo para outros. Mas ela também sabe o quanto os tempos mudaram, pelo menos no “cantinho especializado” do mundo em que ela vive. Stewart dirigiu The Film da boygenius, um clipe musical de 14 minutos que termina com as três artistas se beijando, e consegue ver a evolução entre elas, como ela tem uma consciência de conformidade de gênero que parece muito “millennial” em comparação ao que é oferecido agora. “Olho para essas crianças que estão tão confortáveis em todas essas posição e que podem ter o gênero como um acessório, podem realmente brincar com essa novidade. Ter feminilidade em um dia, não ter no outro.” É uma fluidez psicológica que Stewart cobiça: “Tenho muita consciência dessas coisas.”

Então ela fez o que pôde: se apoiou nessa consciência. Stewart começou a ler principalmente obras escritas por mulheres (“Eu era muito obcecada com escritores homens. Só recentemente que pensei: ‘Que merda eles estão fazendo?’”). Começou a se aprofundar na teoria de gênero, dando para si mesma a educação universitária que, em outra vida, poderia ter tido. Passou a pensar no corpo feminino não só de forma física e sexual, mas de forma metafórica (“A parte mais legal de nós é que temos essa abertura sempre presente e impossível de ser fechada, e andamos com ela o tempo todo. Fingimos que ela não está ali, mas é a nossa maior força”). Ela começou a questionar a “violência da dinâmica” quando se trata de gênero, se alguém teve um momento #MeToo ou não (ela diz que não teve). “A violência e a vergonha que as mulheres internalizam e então usamos como gatilhos de prazer? Não podemos fugir disso”, diz ela. “Pensar que sabemos o que queremos de uma forma que é remotamente distanciada do patriarcado é impossível. Nunca saberemos. E estou muito mais interessada em me aproximar disso do que me distanciar.” Em outras palavras, ela começou, como a própria diz: “Fazer Os Monólogos da Vagina em todos os lugares.”

Alguns anos atrás, Stewart leu um livro de memórias que parecia descarregar magicamente na página tudo o que estava sendo consistente em sua mente. Antes mesmo de terminar The Chronology of Water, ela enviou um email para a autora, Lidia Yuknavitch, perguntando se poderia adaptar sua história, um sucesso cult sobre a vergonha, a fúria e a arte feminina, BDSM entre mulheres e muitas outras coisas “tão tabu que quase dá tesão.” Enquanto trabalhava no roteiro durante muitas semanas, ela acampou em uma van do lado de fora da casa de Yuknavitch no Noroeste Pacífico. Depois, ela leu o roteiro para Yuknavitch, em voz alta, na sala de estar da escritora. Então, ela contratou Imogen Poots para interpretar Yuknavitch. Depois, foi buscar financiamento para fazer o filme, o que provou ser quase impossível porque, afinal, a vergonha, a raiva e a arte feminina e o BDSM entre mulheres são tópicos que não parecem ser adequados para um sucesso de bilheteria. O que só ressaltou como cada pedacinho do livro era verdade.

Estávamos bem relaxadas até o momento, mas de repente Stewart se levanta e anda de um lado para o outro na frente da estante de livros. Ela sabe que seu roteiro é “radical em milhões de maneiras.” Ela sabe que nunca dirigiu A Árvore da Vida, mas também conhece a misoginia incorporada no sistema e sabe que poderia fazer algo subversivo, bonito e verdadeiro se tivesse a chance. “E isso me deixa irritada pra caralho. Não de uma forma, tipo: ‘Estou fazendo isso há tanto tempo, portanto eu mereço.’ É mais: ‘Se eu fosse um homem, vocês acreditariam em mim, porra!’”

O tom de voz de Stewart aumenta a ponto de estar gritando agora, lá com os livros. Por fim, ela caminha até a mesa de sinuca e começa a arrumar as bolas.

“Quer jogar uma partida?” pergunta ela. “É o truque de festa de qualquer lésbica inexperiente.” Vale a pena mencionar que não estamos completamente sóbrias no momento. Do lado de fora da janela, está escuro demais para dizer se ainda está chovendo.

Stewart aplica giz no taco, se inclina sobre a mesa e dá uma tacada. Logo fica claro que ela é a melhor jogadora: quando acerta a bola, é rápida e decisiva. Mesmo assim, ela se distrai com a conversa. Se eu já li Jeanette Winterson? Ou Kate Zambreno? E o livro de memórias de Genesis P-Orridge? Foi uma experiência extrema! Será que eu percebo que estamos nos preparando para o fracasso com essa história de capa? Que é impossível definir qualquer momento no tempo, qualquer identidade fixa? Mesmo assim, ela quer que a capa envie uma mensagem clara: hipersexualidada, andrógina e invertendo o roteiro do gênero. “Se eu passei pela Saga Crepúsculo inteira sem uma capa da Rolling Stone, foi porque os meninos eram os símbolos sexuais”, aponta ela. “Agora, quero fazer a coisa mais gay que você já viu na vida. Se eu pudesse deixar crescer um bigodinho, um caminho da felicidade e desabotoar minhas calças, faria isso. Os homens, desculpa, mas os pelos pubianos deles estão no meu rosto constantemente, e eu penso: ‘Hmmmm, vamos nessa.’”

A propósito, ela quer que eu saiba que não vai desistir de Chronology. Stewart tem falado sobre o filme com jornalistas por anos, a ponto de estar ficando vergonhoso, mas agora esse é seu único plano para o futuro. Ela vai continuar a escrever com Meyer, vai continuar procurando por outras histórias que elas possam contar e que sentem que não estão recebendo atenção, mas ela não está aceitando outros papéis. O próximo filme que Stewart quer filmar é o dela.

Acerto a bola com uma tacada e ela me olha fingindo estar assustada: “Sai da minha casa agora.”

Quando nos sentamos de novo na sala de estar dela algumas semanas depois, Stewart parecia mais relaxada, e não só por conta das endorfinas liberadas por suas milhões de flexões. Uma semana antes do nosso primeiro encontro, ela viajou para a Letônia para explorar locais para Chronology, e ficou maravilhada com a beleza e diversidade do lugar — praias que pareciam a Flórida, a poucos quilômetros de florestas que pareciam o Noroeste Pacífico. Ela agora calculava que o filme poderia ser filmado lá por metade do custo, e embora seja estranho considerar fazer um filme fora do sistema de Hollywood, ela estava se acostumando com a ideia. Com essas localizações, ela sente que pode manter o projeto pequeno e íntimo e pode elevar aquela bolha frágil de faz de conta. “Não quero oitenta pessoas no set”, diz ela. “Vou surtar se eu vir um trailer.”

Ao longo dos anos, os relacionamentos mais íntimos de Stewart tendem a ser com pessoas que ela vê como parceiros criativos, o que, ela admite, “não tem sido muito bom para os relacionamentos.” Quando se trata de Meyer, ela diz: “Não fazemos essa separação. Encontrei a pessoa certa porque posso ser tão obcecada pelo o que eu faço. E, por sorte, minha namorada, minha parceira, gosta das mesmas coisas que eu. Pegamos as coisas nas quais queremos investir tempo e as interligamos, e somos muito mais inteligentes e fortes juntas. Você pensa: ‘Isso é bom pra caralho.’”

As duas se conheceram no set de American Ultra, se conectaram imediatamente (“de uma forma que você não sabe se quer transar ou pensar em um aperto de mãos secreto”), e então se desconectaram imediatamente por conta de outros relacionamentos românticos (“Estávamos enroladas fodendo outras coisas, literalmente”). Seis anos depois, elas se esbarraram de novo. Stewart perguntou por que não mantiveram contato. Meyer disse que havia enviado um email. Stewart zombou e então, opa, verificou todas as mensagens que havia ignorado. “Foi minha culpa, com certeza”, disse ela. “Mas então eu fiz esse relacionamento acontecer. Foi intenso, porque eu fiquei otimista.”

O que ela descobriu ser uma coisa interessante. Por boa parte de sua vida adulta, Stewart se sentiu insegura. Anos foram gastos “vivendo com muita tensão e aproveitando os altos e baixos das coisas”, entrando de cabeça em “relacionamentos horríveis pra caralho” e buscando experiências que eram “emocionalmente psicotrópicas” porque então você pode “colocar tanto na sua arte.” E resultou mesmo em arte. Arte da qual às vezes ela até se orgulhava, arte em que conseguiu “colocar desejo nas pessoas” e fazer de seus sentimentos os sentimentos deles — e, sinceramente, o que é melhor do que isso? “Nunca houve um momento em que eu pensei: ‘Cara, o que estou fazendo com o tempo que tenho na Terra?’” diz ela. “Não sei o que mais estaria fazendo. Eu amo.”

E, olha, tem sido ótimo provar todas essas facetas de si mesma, experimentá-las e entender como ela gostaria de se apresentar na vida real, o que, sejamos honestos, é o que fazemos o tempo todo: “Fazemos escolhas todos os dias em relação a quem seremos. Não de uma forma controladora, mas de um jeito que reconheça: ‘Essa sou eu. É a mais fácil. É aquela que me sinto mais confortável, é a que escolhi.’”

Mas também — e tenha paciência com ela agora pois Stewart sabe que está prestes a se contradizer — ela está ciente de que pode haver algo tão fundamental em quem somos que pode ser perdido e difícil de recuperar. “Sinto que só agora estou voltando a ser aquela criança de 11 anos”, diz ela. “É preciso um longo período de crescimento para voltar para quem você era quando criança.” Ela sabe que essas coisas “podem parecer uma contradição, como se estivesse apresentando algo que não combina.” Ela recusa o conceito de “autenticidade” (“Tá de sacanagem? Somos todos tão maleáveis”). Mas ela ainda acha que talvez exista algo essencial que você sente falta quando é negado a você, algo que pode te ajudar a crescer, ser quem era e a destacar esse elemento, porque “do contrário, é entediante. Não é evolução. Agora, estou realmente criando um lar em que sou uma pessoa adulta.”

Alguns anos atrás, Stewart e Meyer se mudaram para uma casa no fim da rua, mantendo essa para ser usada como escritório da Nevermind e como um refúgio para amigos passando por términos ou outras situações difíceis, assim como Stewart estava passando quando comprou a casa (ela a chama de “Hotel do Coração Partido”, adicionando que do contrário é “maluquice manter uma mansão secundária no fim da rua em que você mora”). Desde que Meyer a pediu em casamento em 2021, elas brincaram com ideias de como querem se casar, fazendo piada (nem tanto? não era piada?) uma vez dizendo que gostariam que Guy Fieri oficializasse o casamento. Desde então, elas perceberam que o foco principal das duas precisa ser os dois projetos do coração — Chronology de Stewart e The Wrong Girls de Meyer, em que Stewart irá estrelar e o qual ela descreve como “uma comédia de amadurecimento sobre duas amigas maconheiras e preguiçosas.” É o único filme que Stewart diz que faria se tivesse recebido o sinal verde antes de Chronology. Com tudo isso se espalhando, Stewart explica: “Não queremos um casamento grande. Provavelmente vamos casar em breve. Só estamos ocupadas tentando fazer filmes porque são nossos bebês.”

E então, elas já conversaram sobre a possibilidade de bebês de verdade. “Não sei como será minha família, mas não há nenhuma maneira de eu não começar a ter filhos”, Stewart me contou no nosso primeiro encontro. “Além disso, em algum momento em breve vou querer ter um bebê. Realmente quero que isso aconteça.” Tendo visto esse desejo se solidificar em tantos amigos, Meyer e ela começaram a se preparar para as possibilidades de como querem engravidar e discutiram carregar os embriões uma da outra. “Não tenho medo de engravidar e nem de ter um bebê”, Stewart me conta. “Mas tenho medo pra caralho do parto, é loucura. Você já ficou drogada demais e precisou ficar de quatro de repente?” ela pergunta em relação à sensação de seu corpo estar operando além do seu controle. “Eu odeio isso. Quer dizer, fumo muita maconha, obviamente me automedico, mas não gosto de drogas pesadas. Já experimentei, e muito. Só não consigo lidar.” Mesmo assim, a ideia da gravidez é tão “radical” que ela acha que poderia enfrentar esse medo.

Agora, no entanto, ela não consegue pensar em criar nada, ou ninguém, antes de Chronology. Stewart espera estar na Letônia em março para as filmagens, ela adoraria chegar a tempo para gravar algumas cenas na neve. Ela me mostra o baralho de locações que montou, e então me pergunta se quero ver os vídeos, depois passa vários minutos mexendo em um controle remoto (“Sabe quando você está muito fora de si e fica tentando fazer a música tocar? Estou assim.” Finalmente, o vídeo começa, o enredo é resumido em uma montagem, o tom estranho, obscuro e exuberante. Ela é assim, é o que Stewart está tentando dizer. Ela só quer poder falar. Menos conversa, mais rock.

Então, desligo meu gravador. Bebemos mais algumas cervejas, o céu de Los Feliz escurece. Por fim, Meyer envia uma mensagem para saber o que está acontecendo e vamos para um bar alguns minutos na mesma rua e nos sentamos em uma cabine, comemos asinhas de frango e ninguém se aproxima além da mulher que anotou nossos pedidos. Stewart se senta ao lado de Meyer, que fala durante a maior parte do tempo (sobre livros, sobre escrever, sobre como essas são as melhores asinhas de Los Angeles ao ponto de não estar mais interessada em outras asinhas). De tempo em tempo, Stewart estica a mão para tocar gentilmente no pescoço de Meyer. Em um momento, elas vão para o lado de fora dividir o baseado que esteve atrás da orelha de Stewart e retornam sorridentes e carinhosas. Quando terminamos as asinhas e as cervejas, chamo um carro, e elas esperam do lado de fora comigo até ele chegar. As duas são boas de abraço.

Antes de nos despedirmos pela última vez, Stewart me pergunta de novo se eu sei o que vou escrever sobre ela, o que, é claro, não sei. Ela está certa: estamos nos preparando para o fracasso com essa coisa de história de capa. Identidade é tão maleável, uma série de escolhas feitas repetidamente para servir algo vago. Pode ser necessária muita força para abafar todo o barulho e chegar em um ponto em que você sabe fazer essas escolhas de uma maneira honesta. Então, é, acho que o que eu tenho a dizer é: Kristen Stewart é forte pra caralho — seja lá o que isso signifique.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil